quarta-feira, 12 de novembro de 2008

[29] V, de Adriana Molder, por João Pinharanda (Fundação EDP)


A partir de 14 de Novembro, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva
Com o apoio da Fundação EDP

'A Fundação EDP prossegue a sua política de parceria com a Fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva com a produção de uma exposição da pintora Adriana Molder nos espaços do respectivo Museu.

A inauguração acontece em simultâneo com a Au Fil Du Temps - Percurso Fotobiográfico de Vieira da Silva, de quem se comemora este ano o centenário. Esta exposição deu o mote ao trabalho de Adriana Molder, que vai apresentar um conjunto de retratos da artista homenageada e das suas relações de amizade e trabalho, nomeadamente do seu marido Arpad Szenes.

Adriana Molder trabalha habitualmente em desenho criando ou recriando personagens com as quais compõe verdadeiras narrativas visuais. Essa figuras articulam a forte raíz literária da sua inspiração com uma inequívoca vocação visual.

Nesta série a fonte é imediatamente plástica pelo que a fusão entre o visual e o literário surge mais evidente. Note-se que a exposição apresentará também exemplos das suas mais recentes pesquisas no campo da pintura a óleo.

Recorde-se, finalmente que, no âmbito das referidas comemorações do Centenário de Vieira da Silva a Fundação EDP co-produziu este ano com a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva duas exposições ("Correspondências", realizada no Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva; e "Vieira da Silva, Arpad Szenes e o Castelo Surrealista", que teve lugar no Museu de Electricidade) e respectivos catálogos e ainda um livro, com edição Assírio & Alvim, onde se reúnem e comentam as cartas trocadas entre Mário de Cesariny, a artista e o seu marido.

A propósito da visível importância desta exposição escreve-nos João Pinharanda, Comissário (numa missiva que intencionalmente intitula "Vê"):

"Vê" Assim se lê, em português, a letra que assinala o nome de Vieira (1). E ao dizê-la, transformando a letra lida e escrita em som e palavra, percebemos o poder mágico de fundir som, forma e significado.
É disto que trata aqui Adriana Molder: da magia que preside à fusão das matérias, das técnicas, dos olhares, dos sentidos. Maria Helena Vieira da Silva, no seu vestido aos quadrados, como os labirintos que pintou, o pano enfunado movendo-se num papel demasiado molhado de tintas negras; e sem cabeça. Maria Helena, a cabeça apenas, de olhos alucinados de ver não sabemos para além de que plano do real: uma imagem nascida quase sem matéria; e de um fundo ainda negro. Arpad, esse, vendo-a, branco sobre brancos, como pérolas e marfins, e os seus olhos abertos: para dentro, dela.
No verso e reverso destes excessos de luz e escuridão somos nós quem vê: positivo e negativo. A mão de Adriana configurando o mundo enlaçado, comum a A. e V., numa vertigem de perspectivas em cujos pontos de fuga encontramos Vieira. Adriana indicando-nos que alguém vê alguma coisa; ou ordenando a outrem que veja alguma coisa - e se esse alguém são os outros, esse outrem é cada um de nós, individualmente submetido ao imperativo Ver.
Neste labor de fusão Adriana Molder indica-nos, por um código (V de Vieira), o assunto da série. E a visualidade dominante e a metáfora primordial da obra e da artista Vieira são atravessadas e recuperadas num simulacro de formas e espaços e sentidos que nem os espelhos conseguem capturar e reflectir; que apenas as teias de uma ficção, onde as personagens são imagens de si mesmas, nos pode devolver.

João Pinharanda

(1) Em inglês esqueçamos a impossível homofonia entre a letra V e o verbo português. Poderemos, no entanto, recuperar o S de Silva para abreviar um See infinitivo; ou tão indicativo e imperativo, como o Vê português'.

Informação disponível na Web em:
http://www.edp.pt/EDPI/Internet/PT/Group/AboutEDP/EDPFoundation/Agenda/default.htm

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