segunda-feira, 28 de julho de 2008

[16] Murillo Mendes . Maria Helena Vieira da Silva

Maria Helena Vieira da Silva

Diurno e nocturno
Longo e breve
Másculo e feminino
Onda e serpente
Água metálica
Chama rastreante
É o bicho que habita
Na escadaria do século
Entre o sibilar das granadas
E a saudade dos minuetos.

Bicho nervoso
Minucuosos
Tece uma trama há mil anos
Que se transforma com a luz.
Em contraponto às formas
Da cidade organizada.

E o bicho minucioso
Pesquisa sua perfeição,
Bicho diurno e nocturno.

Murillo Mendes (Juíz de fora 1901 - Lisboa 1975)

Maria Helena Vieira da Silva

Diurne et nocturne
Long et bref
Mâle et femelle
Vague et serpent
Eau métallique
Flamme rampante
C'est l'animal qui habite
Sur le perron du siècle
Entre le sifflement des grenades
Et la nostalgie des menuts.

Animal nerveux
Minutieux
Il tisse une trame depuis mille ans
Qui se transforme avec la lumière
En contrepoint aux formes
De la ville organisée.

Et l'animal minuteux
Recherche sa perfection,
Animal diurne et nocturne.

(Traduction de Marie Claire Vromans)

Maria Helena Vieira da Silva

Dag en nacht
Lang en Kort
Mannelijk en vrouwelijk
Golf en slang
Metaalwater
Zoekende vlam
Het is het diertje dat leeft
Op het bordes van de eeuw
Tussen het luiten van de granaten
En de heimwee naar de menuetten.

Nerveus diertje
Minutieus
Weeft hij een web al duizend jaar
Dat van gedaante verandert met, het licht
Als een contrapunt bij de vormpen
Van de georganiseerde stad.

En het minutieuze diertje
Zoekt naar perfectie
Dag-en nachtdier.

(Vertaaling van Eva Neukermans)

Disponível na Web:
http://www.instituto-camoes.pt/icnoticias/noticias01/actvbelgica03.htm

[15] Duas Exposições a ver: Vieira da Silva - Arpad Szenes . Amor alquímico . Mário Cesariny


CORRESPONDÊNCIAS
Vieira da Silva por Mário Cesariny

(Exposição patente na Fundação Arpad S
zenes- Vieira da Silva até 4 de Outubro)


VIEIRA DA SILVA

ARPAD SZENES
E o Castelo Surrealista
Imagens de Arpad Szenes e palavras de Mário Cesariny

(Exposição patente no Museu da Electricidade até 28 de Setembro)


Em Setembro será editado um livro com a correspondência dos três artistas, pela Assírio & Alvim.

Ver Vídeo: Sic online 16.07.2008





JOÃO PINHARANDA . Entrevistado por Sandra Vieira Jürgens

'[...] A ideia é partir do Castelo Surrealista, que é uma obra que o Cesariny escreveu nos anos 60 e publicou em 84, que fala da obra do Arpad e da Vieira dos anos 30 e dos anos 40 (se bem que tenha um quadro ou outro dos anos 50, anos 60). Ele fala daquele período, e esse livro será o guião para visitar a dupla Vieira-Arpad através do Cesariny. Vai ser uma exposição difícil, mas muito gira. Tem uma parte documental que é toda a investigação que ele fez para fazer o livro: os rascunhos, as idas à Biblioteca Nacional, os quadros que ele chegou a escolher, os recortes. Há assim uma espécie de “making of” do livro. O livro também será reeditado pela Assírio e Alvim a cores, porque o original é a preto e branco, e está esgotadíssimo. Nós vamos tentar depois reconstruir, fazer passar o livro para a parede. Por exemplo, vou ver se peço emprestado o Patinir ao Museu de Arte Antiga, e há toda a parte das fotografias do Cesariny com a Vieira da Silva. Vai ser publicado ao mesmo tempo, pelo António Soares e pela Sandra Santos, a bibliotecária da Fundação, o estudo das cartas que eles escreveram entre si e nós vamos fazer uma edição à parte da correspondência da Vieira da Silva com o Cesariny. Vai ser uma operação de reedição das cartas e o catálogo que reflecte a exposição dessa maneira [...]'.

(Lisboa, 1 de Fevereiro de 2008)

Entrevista disponível na Web: http://www.artecapital.net/entrevistas.php?entrevista=46

sábado, 5 de julho de 2008

[14]Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário Inelutável/Maria Helena Vieira da Silva ou l'Itineraire Ineluctable - Sophia de M. Breyner Andresen

MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA

OU O ITINERÁRIO INELUTÁVEL

Minúcia é o labirinto muro por muro
Pedra contra pedra livro sobre livro
Rua após rua escada após escada
Se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
Se multiplicam as salas e cintilam
Os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
E do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
Biblioteca rede inventário colmeia –
Itinerário é o labirinto
Como o subir dum astro inelutável –
Mas aquele que o percorre não encontra
Toiro nenhum solar nem sol nem lua
Mas só o vidro sucessivo do vazio
E um brilho de azulejos íman frio
Onde os espelhos devoram as imagens

Exauridos pelo labirinto caminhamos
Na minúcia da busca na atenção da busca
Na luz mutável: de quadrado em quadrado
Encontramos desvios redes e castelos
Torres de vidro corredores de espanto

Mas um dia emergiremos e as cidades
Da equidade mostrarão seu branco
Sua cal sua aurora seu prodígio.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner (1999). In: Obra Poética III. 4ª
Ed. Lisboa: Editorial Caminho.

[] (1989). In: Vieira da Silva - Arpad Szenes, nas Colecções Portuguesas. Porto: Ed. Casa de Serralves – Sec. de Estado da Cultura.p. 47.

MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA

OU L'ITINÉRAIRE INÉLUCTABLE

Minutie est labyrinthe. Mur à Mur
Pierre touchant la pierre livre sur livre
Rue après rue marche après marche
Se fait et se défait le labyrinthe:
Palais est le labyrinthe et en lui
Se multiplient les salles et scintillent
Les chambres de Babel rauques et rouges
Passé le labyrinthe: ses jardins affleurent
Et au font de la mémoire montent les escaliers
Croisée de chemins de labyrinthe et antre et grotte
Bibliothèque réseau inventaire ruche
Itinéraire le labyrinthe
Comme la montée d'un astre inéluctable
Mais celui qui le parcourt ne recontre
Ni taureau solaire ni soleil ni lune
Mais seulement la vitre sucessive du vide
Et une lueur d'azulejo aimant froid
Où les miroirs dévorent les images.

Epuisés par le labyrinthe nous avançons
Dans la minutie de la recherche l'attention de la recherche
Dans la lumière changeante: du carré au tableau
Nous rencontrons détours réseaux châteaux
Tours de verre corridors d'effroi
Mais un jour nous émergeons et les villes
De l'équité montrent leur blanc
Leur éclat leur aurore leur prodige.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner (1989). In: Vieira da Silva - Arpad Szenes, nas colecções Portuguesas. Porto: Ed. Casa de Serralves – Sec. de Estado da Cultura.p. 48.

Notas acerca da memória em Sophia

'[...] A nostalgia do passado, infância ou Grécia antiga, implica que à memória seja atribuída significativa importância e uma função de relevo nesse retorno e refazer do tempo. São vários os poemas que o explicitam. Pode ser a «memória longínqua de uma pátria / Eterna e perdida» que «não sabemos / Se é passado ou futuro onde a perdemos»(6). Ou, num poema sobre a pintura de Vieira da Silva, fala do passado como labirinto dos jardins que afloram e do «fundo da memória sobem as escadas»(7). Num outro texto dedicado à mesma pintora “Landgrave ou Maria Helena Vieira da Silva”, de Ilhas (pp. 68-69), alude ao «olhar que busca o aparecer do mundo e o emergir do visível e da visão, à «memória acumulada» [...]'

José Ribeiro Ferreira (Universidade de Coimbra)

Notas:
(6) . Composição I da série “Poemas de um livro destruído”, incluídos em No Tempo Dividido (p. 9).
(7) . Poema “Maria Helena Vieira da Silva ou o Itinerário inelutável”, de Dual (p. 39). O poema é tratado no estudo «O tema do Labirinto na poesia portuguesa contemporânea» que publiquei em Humanitas 48 (1996), pp. 326-327.

FERREIRA, José Ribeiro (2006) 'Nostalgia do Passado em Sophia'. In: Máthesis 15. pp. 197 -210.
Disponível na Web:
http://z3950.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mat15/Mathesis15_197.pdf